RECORTES PONTUAIS SOBRE MISSÃO E JUSTIÇA SOCIAL NA OBRA QUAL A MISSÃO DA IGREJA DE KEVIN DEYOUNG & GREG GILBERT.
Por Charles Santos
Em 2015 li em Moçambique na África a obra em voga neste recorte reflexivo. Fiquei bem satisfeito pois é fácil perceber em boa parte dos evangélicos a confusão sobre missão e assistencialismo social. Abaixo segue alguns recortes pontuais da obra e no final links de onde adquirir para aqueles que se interessarem.
Não queremos:
- Que os cristãos sejam indiferentes para com o sofrimento ao seu redor e no mundo; • Que os cristãos pensem que a evangelização é a única coisa na vida que realmente tem valor; • Que cristãos que arriscam sua vida e se sacrificam pelos pobres e desamparados pensem que sua obra é de alguma maneira suspeita ou é digna de louvor somente se ela resulta em conversões;
- Que cristãos se retraiam em ajuntamentos santos ou fiquem alegremente despreocupados em trabalhar duro e causar impacto em qualquer campo ou carreira para a qual o Senhor os chama;
Que os cristãos parem de sonhar com maneiras criativas e corajosas de amar seu próximo e impactar suas cidades. Queremos salientar todos estes pontos, enfatizá-los, destacá-los e gravá-los em nosso coração. É muito fácil ter a mente certa, mas as mãos e o coração errados.
Havendo dito tudo isso, eis algumas coisas que queremos:
- Queremos assegurar-nos de que o evangelho – as boas novas da morte de Cristo pelo pecado e sua subsequente ressurreição – é de primeira importância em nossas igrejas.
- Queremos cristãos livres de falsa culpa – de pensar que a igreja é responsável pela maioria dos problemas no mundo ou responsável por solucionar esses problemas.
- Queremos que a nítida e única tarefa da igreja – fazer discípulos de Jesus Cristo para a glória de Deus Pai – seja colada à frente e no centro e não fique perdida num turbilhão de interesses censuráveis.
- Queremos que os cristãos entendam a narrativa bíblica e pensem mais criticamente sobre textos específicos desta narrativa.
- Queremos que as igrejas se lembrem de que há algo pior do que a morte e algo melhor do que a prosperidade humana. Se esperamos por cidades renovadas e corpos sarados nesta vida, somos as pessoas mais infelizes no mundo.
Ao corrigir certos aspectos de alguns pensamentos missionais, compreendemos que o pensamento missional está, ele mesmo, se esforçando para corrigir abusos da missiologia tradicional. Ambas as correções podem ser necessárias às vezes. Felizmente, nenhum evangélico diria (ou pensaria): “Ah! Deixa tudo se destruir. Quem se importa com comida ou água para os pobres? Quem liga para o HIV? Vamos dar-lhes o evangelho para a alma e ignorar as necessidades do corpo”. O pensamento missional é contra isso. E, de modo semelhante, esperamos que nenhum evangélico iga (ou pense) o contrário: “Compartilhar o evangelho é ofensivo e deve ser evitado. Se os pobres têm trabalho, cuidados médicos e educação, isso é suficiente. O mundo precisa de mais comida, e não de mais sermões”. Cremos que o pensamento missional não é a favor disso. Uma oração por humildade e entendimento A verdade é que ambos os lados têm coisas importantes a dizer um ao outro. E devemos ser cuidadosos em nossa correção mútua para que não fazermos compensações exageradas. No seu melhor, os pensadores missionais estão advertindo a igreja contra indiferença negligente e insensível para com os problemas e as oportunidades potenciais ao redor de todos nós, uma desconsideração dualista para com a pessoa em sua totalidade. Por outro lado, um grupo diferente de cristãos teme sonhos utópicos e excessivamente otimistas, uma perda da centralidade de Deus e um abrandamento da mensagem urgente da igreja, a mensagem de Cristo crucificado por pecadores merecedores do inferno. Ambos os perigos são reais. Admitimos que somos mais sensíveis ao segundo perigo. E, de fato, um dos alvos deste livro é proteger a igreja destes erros. Mas entendemos plenamente que muitos cristãos, talvez até nós dois, estão em perigo de passar ao largo do homem caído na estrada de Jericó.
Uma última palavra antes de começarmos: queremos dizer mais uma vez que apoiamos fortemente igrejas que realizam ministérios de misericórdia em suas comunidades. Ambas as nossas igrejas têm programas e apoiam missionários que têm como alvo atender às necessidades físicas, enquanto também esperam compartilhar o evangelho sempre que possível. Embora não creiamos que a missão da igreja é edificar o reino ou ser cooperadora de Deus em refazer o mundo, isso não significa que somos contrários ao envolvimento cultural. Nosso objetivo é apenas que entendamos esses esforços nas categorias teológicas corretas e os adotemos sem sacrificarmos as prioridades mais explícitas. Não devemos baratear as boas obras por torná-las apenas um meio para chegarmos a algum outro fim (evangelização). Também não queremos exagerar a nossa responsabilidade por pensarmos que temos o dever de edificar o reino por meio de nossas boas obras. De modo semelhante, não devemos espiritualizar demais a ação social, por torná-la equivalente à shalom de Deus. À medida que a igreja ama o mundo tão amado por Deus, trabalharemos para aliviar o sofrimento onde pudermos, mas especialmente o sofrimento eterno.
[1] DEYOUNG Kevin & GILBERT Greg. Qual a missão da Igreja? : entendendo a justiça social e a grande comissão. São José dos Campo, SP: Editora Fiel, 2012.